quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Fracassado

Hoje quase fritei meu dedo. E outro, dos nove que restavam, cortei. Nessas ocasiões é fácil pensar: sou um fracassado e faço tudo errado. A dor de pensar isso é bem maior do que a bolha, a ardência e o latejar incessável oriundo de uma maldita queimadura de segundo grau.

Nessa hora, todos sabem o que fazer; qualquer pessoa, mesmo que você nem conheça, diz que você tem que colocar pasta de dente, vinagre, sal. Ou simplesmente água, queimar de novo, temperar a gosto, enfim... parece que todas as pessoas no mundo já conseguiram ser tão idiotas quanto você e possuem conhecimento de causa. Mentira!

É muito ruim olhar para uma simples queimadura (embora seja de segundo grau) e pensar: “Sou um perdedor, um fracassado. Não consigo fritar batata sem fazer merda!”, é duro gritar de dor sem ter ninguém por perto. O grito sempre pede um feedback, mas você fica no vácuo. Portanto, por que continuar continuar com isso?















Joe, o bolha
!

Mas
foi bom. Foi bom ver que, de certa forma, sou independente. Não precisei da porra do conhecimento de ninguém. Gritei de dor sozinho, fui ao médico apenas pra ele dizer que esperar foi a escolha certa. Tudo requer tempo: a bolha estoura, a pele cicatriza e tudo fica bem novamente. Senti-me independente. É bom ver que, se eu sou um perdedor, eu perco apenas pra mim mesmo. E mais ninguém!


Nota: Escrevi o texto há dois meses atrás. Não tenho mais a bolha :D

Better say goodbye...

O que fazer quando o sal das lágrimas é a sobremesa após um jantar de sexo? Você serviu, mas chega a hora de tirar a mesa.


"We would be friends
if we tried again
I'll take second place
just to end the race."


Clip do Little joy -aquela banda ótima com o Amarante (Los Hermanos) e o Moretti (Strokes):



domingo, 1 de fevereiro de 2009

Manhã de ressaca

Abro a geladeira e não tem café. Ele não tá na geladeira!

O que eu comi? Só sei que eu não senti o gosto do óleo em que escorreguei;

Eu não senti a chuva no rosto, muito menos vi o vento destruir os galhos da árvore;

Eu queria lembrar de um pesadelo ao acordar só pra justificar a face desfigurada e o mau humor.

Hálito de álcool, olheira de carvão,

Cinzas no cabelo, azia e má-digestão.

A porta da dor foi consertada; não tem mais o vão que tinha ontem. Por onde sair?

Vou ficar...

Não existe mais dúvida (sorte a minha!):

Sinto-me vazio e é bem melhor que se preocupar.

Sobre correr


Sabe, eu gosto do movimento; deixar leve o que os poetas chamam de alma. Eu corro porque, ficando parado, minha cabeça gira e os pensamentos fluem. Não é bom pensar em certas coisas! É bom que as coisas se movam, mas é preciso controlá-las.

Eu corro porque meus batimentos cardíacos não são diretamente proporcionais a alguns processos neuroquímicos que eu tento evitar; pequenas informações armazenadas no meu hipocampo que, por instantes, tornam-se voláteis com algum gole de whisky vagabundo.










Não há adversários para fugir, além de mim mesmo e outras faces insolúveis em um mesmo reagente. Eu corro para satisfazer alguns vícios sensoriais e paro para não perder o prazer de um suspiro pausado e ofegante. Correr exatamente para ter noção da rapidez das coisas.

Eu corro para não perder a hora ou me perder no próprio norte. Para me sentir cada vez mais longe do mundo. “Eu corro até meus músculos arderem e jorrarem ácido de bateria” (Jack) e, então, canso; fico com falta de ar; dilato meus brônquios artificial e viciosamente para poder deitar.